Perspectiva de preparação do futuro e investimento inteligente
Vivemos numa época de transição, e isto também se aplica ao sistema político. Com as actuais tecnologias científicas já não se justifica tantos obstáculos à optimização dos recursos colectivos. E neste momento o sistema político é mais obstáculo do que facilitador.
Os cidadãos não estarão disponíveis para continuar a pedalar em seco para alimentar um Estado lento, pesado e burocrático e uma subserviência a Bruxelas.
Continuarmos a ver o futuro ensombrado pela incapacidade de previsão dos actuais protagonistas políticos não é muito inspirador. Assim como a cultura que representam.
Vê-los juntos ou em alternância, também não me parece entusiasmante. Ambos partilham a prioridade "agradar a Bruxelas", ambos gostam de controlar tudo, ambos agirão com pouca transparência, a teimosia é um traço comum assim como a arrogância, um não é responsável pelas falhas o outro nunca perde eleições (= como um ex-PM que nunca se enganava).
A única área que correrá melhor é a ordem pública, a segurança, a prevenção. Para não continuar a revelar fragilidades, o governo estará mais atento e alerta. Dificilmente continuaremos a ouvir uma ministra da Justiça afirmar que a PJ identificou mais perfis de incendiários do que o número de incendiários presos, por exemplo. E na prevenção rodoviária, os pontos serão para valer e haverá cassação de cartas.
O apoio às vítimas, os prejuízos, a reconstrução, será outra prioridade.
Também o SNS será uma área acarinhada a partir de agora.
Quanto ao desperdício de dinheiro e de recursos no sistema bancário, essa é uma incógnita. No entanto, o fisco estará muito afinado, resta saber se apenas para os que não lhe podem escapar por não terem dimensão e advogados fiscais. E os recibos verdes continuarão a ver-se aflitos para perceber o "complex" em que os meteram.
O que fica para trás, como sempre, pela cultura de "bloco central"? Exactamente. A educação, os professores, as escolas, as universidades.
E se isto for mesmo assim, não estaremos assim tão mal, pois não?
Estaremos mesmo mal, é o que ouvimos recentemente a Vitor Bento, que nos devíamos estar a preparar para os desafios futuros, para não ficarmos completamente dependentes de fora, sem produzir. O mesmo não será dizer que é tempo da Economia, e não apenas das Finanças?
E nessa perspectiva de preparação do futuro, não são a saúde e a educação áreas fundamentais?
Nessa perspectiva de preparação do futuro, em vez de obrigar os contribuintes a enfiar dinheiro no sistema financeiro que não os reconhece como accionistas, um sistema que irá sofrer grandes abalos e mudanças, porque não incentivar o investimento em empresas produtivas, que os reconheceriam como accionistas?
Os montantes absurdos que este governo já enfiou nos bancos falidos deve ser exigido pelos contribuintes em investimento inteligente, a trazer retorno para a próxima geração, pelo menos.
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2018: o que podemos fazer por nós enquanto cidadãos, comunidades, regiões, país?
Começo por esclarecer que não estou a dizer o que podemos fazer pelo país político, frase primeiro ouvida a Kennedy (what you can do for your country) e posteriormente adoptada por outros políticos :) É a frase que coloca jovens militares em guerras imorais destruindo gerações, é a frase que inspira ao sacrifício pessoal por interesses obscuros, é a frase que desresponsabiliza governos e políticos de fazerem o que deveriam pelos cidadãos. Não sei se era essa a perspectiva de Kennedy que nem foi um Presidente bélico, mas é assim que é interpretada e utilizada pelos políticos.
A minha sugestão vai precisamente no sentido contrário: tendo nós já verificado (e ando a dizê-lo há 10 anos) que os sucessivos governos desde o governo socrático, passando pelo governo-troika, e este socialista actual, negligenciaram o seu dever e responsabilidade mais básicos, é tempo de tratarmos uns dos outros como cidadãos, comunidades, regiões, país.
A minha sugestão é a da participação cívica. De certo modo, já iniciada como um movimento ainda não organizado. Lembremos o 15 de Setembro, petições várias, encontros nos centros de algumas cidades depois dos incêndios e, mais recentemente, a iniciativa da Associação Tranaparência e Integridade sobre a proposta de lei do financiamento dos partidos.
Como cidadãos, podemos reclamar um governo responsável que finalmente coloque os cidadãos, as comunidades, as regiões e o país à frente de interesses oportunistas, de rampa de lançamento para políticos em Bruxelas (Sampaio lançou Barroso, Sócrates lançou Constâncio, Costa lançou Centeno, as nossas stars na Europa :) Barroso, depois da Cimeira das Lajes que anunciou a guerra ilegal do Iraque, e 20 anos à frente da CE, foi terminar a sua carreira no Goldman Sachs. Constâncio, depois de vários anos à frente do Banco de Portugal em que situou o défice de Santana Lopes em 6,83 e falhou clamorosamente na supervisão bancária, foi catapultado para o BCE. Centeno foi premiado com a presidência do Eurogrupo por ter ido além das regras europeias pelo défice e pela dívida, como mais um "bom aluno" de Bruxelas, cativando as vidas de cidadãos, comunidades, regiões e país.
As nossas stars europeias não nos podem animar, entusiasmar ou sequer inspirar. Trata-se de uma vaidade humana que nos ilude, tal como a frase de Kennedy interpretada pelos políticos. A cultura do orgulho nacional é obsoleta, já não move ninguém que goste de si próprio, dos outros e da vida. Porquê?
Porque o orgulho, que incha os políticos e outras pessoas pueris ou imaturas, é apenas o reverso da vergonha. Apelar ao orgulho de si próprio, de outros, de um grupo, de uma equipa, ou de um país, é apenas compensar o sentimento mais destrutivo de todos: a vergonha.
Quando conseguimos terminar uma tarefa difícil, ou encestar no basket, ou enfrentar alguém que tinha um ascendente sobre nós, ou tomar uma decisão seguindo a nossa consciência, sentimo-nos bem, felizes, confortados, tranquilos.
Quando alguém de quem gostamos consegue aquilo que deseja, ultrapassar obstáculos, organizar a sua vida de forma autónoma, encontrar a estabilidade afectiva ou ver o seu trabalho reconhecido, sentimo-nos felizes por ele ou com ele.
E o mesmo para pais e filhos, onde ouço muitas vezes a palavra orgulho de ti em vez de felicidade por ou com. Os pais podem não se aperceber, mas seria muito mais saudável dizer a um filho: sinto-me feliz por ti ou sinto-me feliz contigo, do que sinto-me orgulhoso de ti.
2018 traz-nos grandes desafios:
- não podendo confiar neste governo em áreas fundamentais como a prevenção, a segurança, a protecção civil, a justiça, a agricultura, o ambiente, o que podemos fazer para prevenir situações de risco, na floresta e nas estradas, em termos ambientais, na utilização da água, etc.?
- mas não esquecer a saúde e o SNS, e a educação, áreas essenciais para os cidadãos.
O que nos pode ajudar?
- uma conjuntura política e económica favorável: isto está fora do nosso controle. E é aqui que Centeno no Eurogrupo vai complicar ainda mais as coisas, ao implicar um reforço do papel de "bom aluno", um exemplo para os outros países da zona euro.
- a economia vai ser condicionada de forma ainda mais apertada com Centeno no Eurogrupo e o PS a governar. Também aqui os cidadãos podem ter uma voz organizada de forma a defender o seu espaço-tempo e a resgatar o seu futuro.
- as eleições directas no PSD: a escolha do próximo presidente do PSD pode não parecer fundamental para todos nós, mas é. Trata-se muito provavelmente do próximo PM. Além disso, a AR precisa de um reequilíbrio: o PS inchou de orgulho com o défice, a dívida, os números do crescimento, o rating, as sondagens, e Centeno no Eurogrupo. E já delira com a maioria absoluta. É por isso que é importante ajudar a clarificar o que significa para nós a escolha por um ou por outro dos candidatos. Daqui a 2 dias temos o primeiro debate. Estejamos atentos, pois.
Como manter a nossa capacidade de observação e análise, e autonomia de pensamento?
- não nos deixarmos influenciar pelos media, jornalistas, comentadores, comentadores-deputados e políticos em geral. Um dos comentários mais estranhos e perversos que eu já ouvi na minha vida foi, na sequência dos incêndios e das tragédias, e sobre a reacção dos cidadãos em relação ao governo, alguém dizer num canal televisivo que os portugueses são bipolares, isto é, variam entre a euforia e a depressão. A verdade é que a depressão foi a reacção normal face às tragédias. Quem não sentiu uma tristeza e revolta com o que aconteceu é que revela incapacidade de empatia com o sofrimento de outros.
- não nos deixarmos distrair com manobras de diversão. O PS é profissional nessa arte: anúncios espectaculares, sucessos nisto e naquilo, o país está na moda, ou então, as rasteiras a adversários políticos, ou palavras que lhes querem colar (ex: "trapalhadas" no tempo do governo de Santana Lopes), ou armadilhas em que os querem colocar. Sempre que se sentirem acossados ou a perder o pé, vão inventar situações comprometedoras. E todos sabemos como a informação pode ser manipulada e levar a equívocos graves.
Estou a preparar uma análise dos perfis dos candidatos à presidência do PSD, só me falta juntar o puzzle. Nos pormenores em que ninguém repara é que está a chave da solução que será melhor para todos nós. Só vou adiantar isto: é verdade que a personalidade os distingue e que essa distinção é mesmo importante. É verdade que há perfis que se adaptam aos desafios do séc. XXI e há perfis que não. É verdade que hoje já não se pode governar sozinho e controlar tudo, mas ter uma equipa coesa, organizada, competente, o que exige uma capacidade de interacção social e de inteligência emocional fora do comum. Além disso, hoje é impensável um governante não estar receptivo à participação cívica. E mais do que estar receptivo, apelar à participação cívica e ajudar a mobilizá-la.
Se assistirem ao primeiro debate tendo esta perspectiva em consideração, verão mais claramente quem escolheriam para potencial próximo PM.
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Colaborar, cada um no seu lugar e no seu papel, para que tudo dê certo
A vida por vezes surpreende-nos, situações e circunstâncias que não conseguimos explicar. Anos mais tarde lembramos um olhar, uma frase, uma entoação, e a situação adquire um novo sentido e importância.
Antes procurava a lógica e o significado de tudo, não descansava enquanto não conseguisse descobrir uma explicação, uma interpretação. Agora é a situação que se revela a pouco e pouco, como um ecrã sensível e interactivo. É assim na vida pessoal, na vida da comunidade mais próxima e nas notícias que chegam diariamente do país e do mundo pelos diversos meios.
É por isso que já não consigo ouvir os comentários políticos, por exemplo. A maior parte dessas frases pomposas não faz sentido na nova cultura política que já nos rodeia. E se não valem como interpretação da realidade actual, também não valem como narrativa que se quer substituir à realidade.
É por isso também que já não me interessam as ideologias políticas. O PSD redescobriu a social democracia? Risível. O CDS redescobriu a sua alma democrata cristã? Risível. Até o PAN que está a dar os primeiros passos na experiência dos debates na AR se revela mais credível porque definiu e manteve a sua marca registada.
Quais são agora as nossas prioridades como cidadãos deste país? Colaborar, cada um no seu lugar e no seu papel, para que tudo dê certo. Refiro-me ao orçamento, à economia, ao equilíbrio de poderes social e económico, à fiscalização da actividade financeira. Tudo o que determinará a relação de poder com a CE e o Eurogrupo.
Para já, as circunstâncias são-nos favoráveis, as principais instituições da gestão política colectiva, governo e Presidência, revelam a inteligência e a cultura do séc. XXI, da colaboração.
A nossa auto-estima como país também levou uma refrescadela, o que muito ajuda. Os acontecimentos felizes que para isso contribuíram foram: a visita de Bento XVI em Maio de 2010; o perfil e o papel do Papa Francisco; os resultados das últimas legislativas que permitiram uma nova solução governativa e a candidatura de Marcelo à presidência.
Aproveitemos bem estas circunstâncias de modo a estarmos preparados para lidar com os desafios que valem a pena.
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Como lidar com a cultura autoritária da CE e do Eurogrupo?
A CE e o Eurogrupo nunca poderiam permitir que um orçamento que segue uma orientação diferente da austeritária pudesse funcionar. Para boicotar essa possibilidade utilizaram várias estratégias, ao nível interno, através do PSD e do CDS, e ao nível internacional, através da vinda da troika e dos avisos das agências de rating. Finalmente, ao falharem estas linhas da frente, resolveram bater o pé na comissão e no Eurogrupo.
Qual é o argumento do comissário e do presidente do Eurogrupo? Nós é que definimos a necessidade de medidas adicionais que têm mesmo de ser implementadas. Será este argumento razoável? Não. Trata-se da continuação da cultura autoritária da CE e do Eurogrupo.
Há esperança, no entanto, para o nosso pequeno país plantado no oeste da Europa. Pela primeira vez em democracia temos uma cultura de colaboração entre o governo e o Presidente e, em breve, entre as diversas instituições públicas. Esta cultura é fundamental para que tudo funcione melhor.
Sabe bem ver, para variar, que estamos a navegar de novo à frente, a absorver o ar fresco de quem vai à frente, a aprender a viver no séc. XXI, na cultura própria do séc. XXI, no seu ritmo próprio. Os jovens começarão a ver as suas ideias aproveitadas e valorizadas. Veremos equipas heterogéneas, em idade e formação, funcionar em todas as áreas do conhecimento e da tecnologia. E, se tudo correr mesmo bem, as mulheres verão os seus salários equiparados aos dos homens. Seremos, para variar, um exemplo a seguir.
Post publicado n' A Vida na Terra.